Para embalar


… Pegou o violão enquanto ela dormia, começou um dedilhado simples, improvisou alguns acordes delicados, sentiu como em um filme de trilha sonora exata. Olhou sua mulher: nua, abraçada a um lençol azul, parecia um anjo. Seus cabelos negros esparramados pela cama, com o corpo um pouco à mostra, as costas fazendo covinha, coxas em destaque e sua cor lhe provocando. Ele a olhava e seu coração respondia, batia forte, dando a certeza de que ‘era ela!’. Achava mágico como o rosto dela lhe acalmava, como aqueles olhos davam a ela uma aparência sempre dócil – mesmo não sendo sempre tão dócil quanto aparentava. Queria que ela pudesse sentir aquela certeza que o invadia, nunca havia se sentido assim tão feliz como naquele momento, a vida agora parecia estar lhe abrindo as portas outra vez e ele – definitivamente – queria fazer o seu melhor, precisava aproveitá-las, queria aproveitá-las, iria aproveitá-las, pois sabia que era capaz. Gostava de pensar também o quanto ela era sua companheira em tudo: falava e fazia a coisa certa na hora certa! Sabia aconselhar, sabia ouvir, sabia fazer rir e chorar também, brigava se necessário, mas oferecia afago na maior parte do tempo; isso fazia com que ele se sentisse seguro suficiente para querer retribuir todo o bem que ela lhe fazia. Virou-se um pouco para olhá-la mais de perto e não resistiu, deixou o violão um pouco de lado e beijou-lhe as costas delicadamente como ela gostava. Percebeu que havia despertado, mas que ainda fingia estar dormindo; ela nunca conseguia segurar o riso e por isso usou sua arma secreta: beijou-lhe o pescoço. Dito e feito! Ela sorriu preguiçosamente. Soltou o lençol, virou o corpo para ele que estava deitado ao seu lado, deu-lhe um beijo no nariz e, com aquele rosto dócil e aqueles olhos cheios de sono, superando toda a preguiça e com a voz ainda rouca, quis falar:

Toca algo para eu voltar a dormir, amor? Ainda é tão cedo…

Deu um beijo em sua testa, pegou o violão e tornou a dedilhar
os acordes da canção que ela gostava de ouvir.

13 comentários sobre “Para embalar

  1. Eu sempre venho aqui, mas nunca comento. Não por não gostar, mas por gostar tanto que nem sei o que dizer.

    Esse texto ficou tão delicado, tão manhoso, tão “cute”. Me fez lembrar alguém e o quanto gostaria de estar com ele agora.

    Beijos!

Deixar mensagem para Nini C . Cancelar resposta